quarta-feira, 6 de março de 2013

Atchim e espirro

Hoje, quarta-feira, 6 de março de 2013, completa-se um mês que eu tive a minha última crise de rinite (última até então, que fique bem claro). Esse é um recorde absoluto e maravilhoso que emoção obrigado satanás pela glória com que me iluminas. Imagine você que a frequência normal com que as crises de espirro e coçação de nariz me abatem é a cada 5~10 dias. E hoje vão-se 28 dias (fevereiro e tal) desde que eu acordei com o nariz arrebentado pela última vez.

Mas esse blog jamais vai tratar de um assunto que seja belo e inspirador, portanto estou pensando no futuro. Se você já teve algumas experiências nesse mundo e é capaz de reconhecer padrões deve saber que a lei que rege o universo é a do equilíbrio, na dúvida sempre pendendo pra piroca galática dilacerando a sua bunda. Sendo assim, óbvio é que isso vai dar merda. Um mês sem rinite é inaceitável para os padrões dos senhores do cosmos, então a compensação virá e não será dócil. Entra aquele efeito de redemoinho na tela, corta pro futuro.

É uma ensolarada manhã de dia útil, eu estou a caminho do metrô e começo a espirrar. Um, dois, três, quatro. "Opa", penso, "alerta". Entro no metrô, o nariz coça, coça, os olhos lacrimejam. Chego no trabalho, bom dia, bom dia, ponho a mochila no armário, o fone de ouvido no computador, a carteira na mesa e saco o spray nasal da caixinha. Dois jatos na narina esquerda, puxa, respira pela boca. Dois jatos na narina direita e algo dá errado, eu espirro de novo. E de novo. Três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove! É meu novo recorde de espirros consecutivos. Dez, onze, doze, cinco minutos, meia hora, uma hora, não para! Os colegas vão para suas casas, o prédio é evacuado, a agência de vigilância sanitária faz uma cerca ao meu redor com faixas listradas amarelas e pretas. Duas, três horas, aquilo que devia estar dentro de mim já está no meio das minhas canelas. Helicópteros sobrevoam, música do plantão na Globo. Um dia.

Quarenta dias. Dos prédios mais altos, veem-se os topos. Dos outros, só as lembranças. Todo o continente está encoberto por catarro. Sobreviventes flutuam em ilhas de catotas, ricos choram a perda de suas propriedades em albergues na Europa. Meu rosto, ou o que uma vez foi meu rosto, virou uma massa arroxeada sem forma. Os espirros cessaram, meu nariz não existe mais. Alguém me oferece uma Loratadina, a única que restou, salva como que por milagre, como uma rosa no deserto. E eu só consigo me lembrar daquele dia em que comemorei um mês sem uma crise de rinite.

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